Reduzir a Maioridade Penal?
Introdução.
Depois de tanto ver manifestações
nas redes sociais acerca da redução da maioridade penal, resolvi escrever algo
a respeito. Saliento, desde logo, que minha opinião vem livre de qualquer valor
que possa ser influenciado pela advocacia, meu sangue concurseiro ou da
condição de cidadão oprimido pela violência urbana. Me limitarei mais a abrir
os olhos do leitor com dados estatísticos que pautam o estudo da criminologia,
do que, propriamente, querer expressar meu ponto de vista.
É inegável que menores comentem
crimes horríveis por conta da quase certeza de impunidade. Mas seria a solução
a prisão a partir dos 16 anos? E por que não aos 14? O sentimento natural de
qualquer vítima de crimes é a revolta, principalmente quando nos preocupamos em
obedecer a lei, fato que é sumariamente ignorado por muitos marginais. Mas será
que a violência não gera mais violência? Lembremos que tais medidas devem ser
sempre analisadas a longo prazo, pois problema nenhum dessa envergadura é solucionado,
milagrosamente, da noite pro dia.
Dados Estatísticos.
Antes de entrar no assunto
propriamente dito, considero oportuno algumas considerações sobre a massa
carcerária do pais. Você sabia que o Brasil está indo em direção ao topo da
lista dos países que mais aprisionam? Sim, ele é o quarto colocado mundial
nesse quesito com uma massa carcerária de mais de 500mil presos no ano de 2011,
segundo o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN). De plano, já dá pra
perceber que poucas potências mundiais estão a nossa frente e você já
descobrirá o motivo.
Outro aspecto que poucos se
perguntam é: Quem é que sustenta esses mais de 500mil presos? Não esqueçamos
que o custo com cada preso é muito superior ao empregado na educação infantil.
Afinal, construir estabelecimentos prisionais de segurança máxima, mobilizar recursos
humanos, o custeio do famoso auxílio reclusão para os seus dependentes e por aí
segue a extensa lista.
Dado relevante ainda é que o
número de presos tem crescido de forma exponencial no Brasil. Digo isso, porque
o valor duplicou no últimos dez anos. Se seguir assim, como estaremos daqui a
outra década? Será que toda a população terá crescido de forma vertiginosa ou
apenas o índice indicador de detentos? Significa que é algo a levar em
consideração nas políticas públicas. A repressão pura e simples ao crime não
está nos trazendo o efeito desejado, pelo contrário!
Dados da reincidência.
O Ministério da Justiça, através
do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP -, publicou
dados juntamente com o Conselho Nacional de Justiça, CNJ, no sentido de que a
reincidência das penas privativas de liberdade (prisões) está na casa dos 80%,
enquanto que as penas restritivas de direito (prestação pecuniária, prestação
de serviços à comunidade, limitação de fim de semana etc) têm uma reincidência
de apenas 5%. Isso mesmo, você não leu errado, a diferença é realmente absurda.
Será que queremos salvar o sistema penitenciário nacional e, na verdade,
estamos caminhando no sentido diametralmente oposto?
Faço um parêntese aqui para
revelar que as autoridades acreditam que os dados das prisões podem
chegar até 99% devido à falta de um controle mais exato. Isso pelo fato de os
80% serem constatados oficialmente, mas é possível que o mundo obscuro do crime
albergue muitos delitos mais que não foram catalogados.
Diz ainda as respectivas
pesquisas do Ministério da Justiça no sistema InfoPen que, 50% da reincidência
ocorre no primeiro ano. No segundo ano, o percentual já despenca para 16%,
mostrando outro dado revelador: O cárcere nunca foi um ambiente salutar,
principalmente, quando aliado a péssimas condições como revoltas, organizações
criminosas, violência, superlotação, drogas etc. Enfim, a prisão não regenera ninguém,
ainda mais na condição caótica do nosso país.
Aos que desconhecem, a pena tem
como objetivos principais, retribuir o mal causado pelo delinquente e reeduca-lo
para o convívio em sociedade. O mal, por si só, tende a causar mais revolta e
descontrole além de alimentar o ímpeto de violência do reeducando. Com isso é
fácil deduzir que o indivíduo que pratica um pequeno furto e é jogado no
calabouço tende a se corromper ainda mais e sair desse ambiente promíscuo altamente
“regenerado” ou seria melhor dizer "graduado" para retornar para a sociedade.
Retornando, qual é a natural
tendência em um país de oportunidade para poucos? Pessoas de bem têm
dificuldade em se manter em uma sociedade capitalista. O que dizer de um
egresso do sistema carcerário que sofre preconceito, não tem a menor
qualificação profissional e muitas vezes sequer ensino fundamental?
É evidente que o adágio popular é
verdadeiro: violência só gera violência.
A grande ilusão que atende aos anseios sociais.
Saibam, senhores, que quando o
Estado investe em centenas de novas viaturas policiais, investe milhões na
construção de novos presídios etc, na verdade está se autopromovendo. A
população fica iludida envolta em um sentimento de eficácia e segurança com
tais medidas, mas mal sabe que ocorrerá exatamente o contrário. Todavia, a
gestão pública responsável por tais investimentos, sempre é lembrada por ser
competente no combate ao crime.
Não estou dizendo que essa
aplicação de verbas deve ser cortada por completo, mas que deve ser
redirecionada de forma a permitir o efeito almejado no futuro. Não é à toa que
a Coréia do Sul, está surpreendendo cada vez mais a população mundial, são os
investimentos na educação! Essa é a saída para oportunizar uma situação de bem
estar geral e equidade populacional como meio de controle de violência.
Enfim, a redução da maioridade penal.
Antes de tratar sobre o assunto,
fui obrigado a trazer dados para situar a conversa com o leitor. Defender
arduamente uma bandeira pode ser algo conveniente, mas a que preço? Se com
adultos o sistema penal tem se mostrado mais efetivo ao fomentar medidas que
afastem o agente do cárcere, por que não apostar nessa ideia?
Se o sistema prisional corrompe
adultos com o caráter já formado, o que dizer de jovens adolescentes que ainda
nem sabem o que querem da vida? Seria a saída o encarceramento para remover,
por completo, as esperanças de ressocializar uma pessoa assim? E o que dizer do
peso social em custos para um Estado que está duplicando sua massa de presos
adultos a cada década? Poderíamos dar conta de mais umas centenas de milhares
com a inclusão de novos clientes do direito penal?
Me desculpem os grande
criminólogos e doutrinadores da tevê brasileira como Datena e tantos outros, inclusive
aqueles do Facebook, mas a saída demanda um bocado mais de atenção. Não é
apenas bater em quem bate. Devemos direcionar os esforços em busca de medidas
mais eficazes a longo prazo.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHIJc_h9qbettYVZRaiqhJ0wt-Ag68GndcZh_UNZ00gA8zU6ZRCW1Dni3FQKOIxkyYdiZeMSsPS8KSU4LKdYNRFisA5u3J8BSE1CZkwbrYNRXp0SDyHGq5fQSTZhh9rHHPdPmJFY0GVGg/s1600/maior_idade_penal_g.jpg)
Parlamentares que promovam,
portanto, medidas como o recrudescimento do sistema criminal, além de um ganho
com a opinião pública terão, nas mesmas proporções, problemas imensos igualmente. O sistema é muito mais complexo que a população imagina ser.
Como disse, o acima exposto é com
base em dados concretos que não podemos fechar os olhos. Não representa,
necessariamente, minha opinião. Apesar da minha formação profissional, sou
favorável, inclusive, à pena de morte e tenho meus argumentos. Todavia, a
questão da idade penal a ser considerada é um fato mais palpável a ser tratado
e merece todo o cuidado. Minha recomendação de forma resumida? Não tocar em
nada! Apenas direcionar atenções para lugares mais importantes. Sim, estou desconsiderando
a seara jurídica nesse caso, pois considero a educação mais importante.
Um grande abraço aos amigos e
colegas que me acompanham e, se quiserem, posso tentar ajudar mais na questão. Recomento ainda a dissipassão do texto nos bancos acadêmicos para fomentar a discussão sobre o tema, afinal, somos formadores de opinião pelo conhecimento.
Não se preocupem que também não esqueci sobre o material das provas e concursos
em geral, porém essa questão estava me deixando nervoso e tive que escrever
poucas linhas pra não passar em branco.
5 comentários:
NAO.
CONCORDO COM 14 NO MAXIMO...
SÓ PROFESSOR DE ESCOLA PÚBLICA É QUE SABE COMO JA ESTÃO ADULTOS OS HOMENS E MULHERES DE 14 ANOS...
As consequências estão nas estatísticas. Basta fazer projeções para se concluir que se um jovem de 14 anos está degenerado em tais condições, já pensou como será o retorno dele para o ano seguinte da escola após passar 1 ano encarceirado?
Creio que nesses casos o professor de escola pública terá ainda mais dores de cabeça...
Gostei da sua postagem, mas precisamos urgente dessa redução. Quanto as políticas sociais que vão garantir aos delinquentes uma ressocialização, compete aos governos investirem nisso. Eu prefiro que esses menores aprendam na cadeia e ainda por cima estudando e trabalhando.
O problema é que os dados estatísticos são alarmantes no sentido de se ter um problema multiplicado exponencialmente dentro de pouco tempo. Deixar que os governos decidam sozinhos sobre políticas sociais não é algo para segundo plano e sim a prioridade, ela deve ser revista antes mesmo do próprio encarceramento.
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